29.6.10

O que se faz? Apressa-se.

"(...) Mas é isso que falavam, amor? Essa sua história, eu não conheço. Eu só tive vislumbres, parecia prometido, preparado e nunca aconteceu. Eu nunca consegui, eu nunca fui capaz, deve ser culpa minha. Ah, que banal. Até que ponto as circunstâncias não me favorecem, ou eu é que não favoreço as circunstâncias?
(...)
- (...) E o amor, o amor, cara. O que eu faço com isso?
- Você esquece, sei lá. Não tem tanta importância assim. E se for mais forte?
- A merda?
- Claro que não. O amor.
- Amor não existe. É uma invenção capitalista.
 - Isso é só uma frase.
- Eu não sei, pode ser.
- Mas se. Tudo bem. Suponhamos que os dois gostem muito um do outro.
- O que já é difícil.
- Pode ser, mas. Suponhamos. Eu já vivi isso. E se realmente gostarem? Se o toque do outro de repente for bom? Bom, a palavra é essa. Se o outro for bom para você. Se te der vontade de viver. Se o cheiro do suor do outro também for bom. Se todos os cheiros do corpo do outro forem bons. O pé, no fim do dia. A boca, de manhã cedo. Bons, normais, comuns. Coisa de gente. Cheiros íntimos, secretos. Ninguém mais saberia deles (...)O que é que você queria? Rendas brancas imaculadas? Será que amor não começa quando (...) desculpe, você vai rir, qualquer uma dessas palavrinhas burguesas e cristãs não tiver mais nenhum sentido? Se tudo isso, se o tocar no outro(...)se tudo isso for o que chamam de amor. Amor no sentido de intimidade, de conhecimento muito, muito fundo. Da pobreza e também da nobreza do corpo do outro. Do teu próprio corpo que é igual, talvez tragicamente igual. O amor só acontece quando uma pessoa aceita que também é bicho. Se amor for a coragem de ser bicho(...) E depois, um instante mais tarde, isso nem sequer será coragem nenhuma, porque deixou de ter importância. O que vale é ter conhecido o corpo de outra pessoa tão intimamente como você só conhece o seu próprio corpo. Porque então você se ama também.

(...)

A vida é apenas uma ponte entre dois nadas e eu tenho pressa..."




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